A IDEIA DE RAÇA
O racialismo, considerado como o apanhado
científico, que busca comprovar a subdivisão da raça humana em outras raças ou
sub-raças, embasava-se pela fundamentação de que havia hierarquia entre as
raças. Acreditava-se que as diferenças físicas entre os povos, que para os
teóricos eram dimensíveis, definiam as diferenciações morais. Contudo,
desconsideravam que muitas das diferenças físicas deviam-se as diversidades
geográficas.
A fundamentação científica da hierarquia
de racial, justificou a Colonização da África pelos europeus durante séculos,
causando a Escravidão de milhões de africanos, cujos resultados foram
estendidos até a atualidade através dos conflitos internos, além do
subdesenvolvimento africano. Esta teoria também baseou o nazismo, onde houve o
extermínio de milhares de judeus, ciganos, deficientes e negros, pelos alemães,
pois estes, liderados por Hitler acreditavam na superioridade da raça ariana.
Esta teoria cientifica foi desmontada no
século XIX, por meio dos embasamentos da antropologia moderna e posteriormente
pelos estudos da genética desenvolvido pela ciência biológica, contudo o
racismo ainda perdura em nossa sociedade, ocasionando segregação, intolerância
e a violência.
MULHERES NEGRAS: DESIGUALDADES RACIAIS E SOCIOECONÔMICA
No Brasil, a partir do século XX as conquistas femininas avançaram
significativamente, apresentando crescimento no nível de escolaridade,
participação no mercado de trabalho, dentre outros avanços, que propiciaram a
assunção de um novo papel na sociedade e assim, passaram a fazer parte da
agenda governamental através de legislações especificas e do desenvolvimento de
políticas públicas.
O “novo papel” assumido pelas mulheres, que se tornaram chefes de
família/pessoa de referência modificou as taxas de fecundidade, ocasionando no
menor número de filhos mesmo para as mulheres com menor nível de escolaridade
habitantes de áreas rurais. Quanto aos avanços na área da educação, observa-se que
a partir da década de 90 as mulheres ultrapassaram os homens no ensino médio e
superior, apresentando mais anos de estudo do que estes. O crescimento
educacional somado as mudanças no mundo do trabalho, proporcionado pela
industrialização e o processo de urbanização, foram fatores importantes para o
crescimento do mercado de trabalho feminino.
Contudo, apesar dos avanços apresentados acima, quando comparamos os
níveis/acesso a escolaridade, observamos que as desigualdades raciais perduram
para além das desigualdades de gênero, onde mesmo as mulheres apresentando
maior nível de escolaridade do que os homens, os brancos apresentam um melhor
nível do que os negros.
Em relação ao mercado de trabalho, podemos afirmar que este apresenta
elevadas desigualdades entre mulheres brancas e negras. De início podemos
destacar como elemento fundamental para a manutenção deste processo de
desigualdade, o período histórico da escravidão, período em que a mulher negra
era escrava da mulher branca, era sua dama de companhia, mãe de leite de seus
filhos e até mesmo amante dos seus senhores. Está relação de subserviência
incide em nossa sociedade até os dias atuais, fato visível quando observamos
quem são as babás, as cozinheiras, as diaristas, ou seja, quem são as mulheres
que ocupam os postos de trabalho menos remunerados e com baixa visibilidade
social no sistema capitalista.
Outro fator de manutenção desta desigualdade é a forma que se constitui
o sistema econômico vigente, que enfatiza a estratificação social, através da
desqualificação das mulheres negras nos processos de competição por trabalho, uma
vez que as desigualdades de escolaridade geram as desigualdades de
oportunidades no mercado de trabalho, formando um ciclo de desigualdade.
Diante dos fatos apresentados percebemos que a mulher negra no Brasil é
vítima de tripla discriminação, por estar a baixo dos índices de discriminação
de gênero e de raça, ocupando um terceiro patamar de desigualdade.
Contudo, apesar das dificuldades apresentadas, a partir dos avanços nas
legislações e a inserção das questões de gênero na pauta governamental podemos
lutar para alterar este quadro de desigualdades.
MOVIMENTO NEGRO E
MOVIMENTO DE MULHERES
O movimento negro moderno surgiu no inicio do
século XX, momento em que nasceram os primeiros protestos contra o preconceito
racial nos jornais da chamada imprensa
negra e nas associações que assumiram compromisso político pela igualdade.
Estes jornais, de forma crítica e política,
passaram a discutir e disseminar as situações de preconceito racial vivenciadas
pelos negros (as), de forma a provocar mudanças na cultura nacional.
As associações, dentre elas a Frente Negra
Brasileira (FNB) constituída na cidade de São Paulo, foram importantes
divulgadores da política antirracista. Estas instituições eram dirigidas pelas
elites negras que possuíam um nível escolar diferenciado da maioria de seus
integrantes que eram trabalhadores menos privilegiados. As organizações
ofereciam espaços para lazer, estética, auxilio médico, funeral, dentre outras
formas de proteção.
Dentre os movimentos negros do século XX destaca-se
o Teatro Experimental do Negro (TEN), como forma de reconhecimento do valor da
herança africana e da personalidade afro-brasileira, pois para o movimento não
bastava a inclusão do negro por meio do embraquecimento social, mas sim pela
valorização da ancestralidade africana do negro brasileiro, tendo como objetivo
a inserção dos negros na comunidade política e econômica do país.
Os
principais instrumentos utilizados pelo movimento negro foram o teatro, a
imprensa, associações e grupos que propiciavam discursões sobre o tema, a
educação, dentre outros instrumentos para a conscientização política e
valorização do negro na cultura brasileira.
As mulheres destacaram-se nas representações
teatrais, bem como na estruturação das associações negras, como a Frente Nacional
Negra e o Teatro Experimental do Negro.
Contudo, as mulheres negras encontravam grandes
empecilhos para ocupar posições mais privilegiadas, devido ao sexismo presente
na sociedade patriarcal. Como trabalhadoras assumiam os empregos domésticos e
de babá, ou seja, papeis herdados da herança escravista de ama de leite e
mucama.
A partir da abertura democrática as mulheres negras
passaram a se organizar e buscar políticas públicas voltadas para o seu
recorte, pois além de sofrer o preconceito racial, também sofrem pelo sexismo.