domingo, 30 de novembro de 2014

Tradução do livro

http://www.revistahcsm.coc.fiocruz.br/historiadores-traduzem-unica-autobiografia-escrita-por-ex-escravo-que-viveu-no-brasil/
Leonardo Vieira | O Globo
capa_livro_escravo“Que aqueles ‘indivíduos humanitários’ que são a favor da escravidão se coloquem no lugar do escravo no porão barulhento de um navio negreiro, apenas por uma viagem da África à América, sem sequer experimentar mais que isso dos horrores da escravidão: se não saírem abolicionistas convictos, então não tenho mais nada a dizer a favor da abolição.”
As palavras são de Mahommah Gardo Baquaqua, ex-escravo nascido no Norte da África no início do século XIX e que trabalhou no Brasil antes de fugir das amarras da servidão em Nova York, em 1847. O trecho consta do livro “An interesting narrative. Biography of  Mahommah G. Baquaqua” (“Uma interessante narrativa: biografia de Mahommah G. Baquaqua”, em tradução livre), lançado assim mesmo, em inglês, pelo próprio ex-escravo, em Detroit, no ano de 1854, em plena campanha abolicionista nos EUA. A obra jamais foi traduzida para o português, permanecendo desconhecida do público brasileiro.
No entanto, com apoio do Ministério da Cultura e do Consulado do Canadá, o professor pernambucano Bruno Véras, de 26 anos, resolveu se debruçar sobre o documento, ajudado por outros dois pesquisadores. Ele viajou ao Canadá, onde buscou vestígios de Baquaqua e consultou os originais do livro, cuja primeira edição em português deve ser lançada no Brasil até o fim do ano que vem.

sábado, 25 de outubro de 2014

Casamento Gay

O casamento gay soa como uma ideia ultra-contemporânea. Mas há quase vinte anos, um estudioso católico em Yale chocou o mundo ao publicar um livro repleto de evidências de que os casamentos homossexuais foram sancionados pela Igreja Cristã durante uma era comumente chamada de Idade das Trevas.
John Boswell foi um historiador e religioso católico que dedicou grande parte de sua vida acadêmica ao estudo do tempo entre o final do Império Romano e início da Igreja cristã.
Analisando os documentos legais e da igreja a partir desta época, ele descobriu algo incrível.
Havia dezenas de registros de cerimônias da igreja, onde dois homens se juntaram em sindicatos que usaram os mesmos rituais de casamentos heterossexuais. Em compensação, não conseguiu quase nenhum registro de uniões lésbicas, o que demostra que a cultura é muito mais masculina.
Amparado por esta evidência, Boswell publicou um livro em 1994, um ano antes de sua morte, chamado de “Uniões do mesmo sexo na Europa pré-moderna”.
Era um para-raios instante de controvérsia, atraindo críticas da Igreja Católica e da comentarista de sexo Camille Paglia. Sabendo da visão atual da Igreja sobre o casamento gay, esses detratores argumentaram que a história de Boswell parecia uma ilusão.
Mas não era. Boswell na verdade começou sua pesquisa na década de 1970, e publicou um trabalho igualmente controverso em 1980 chamado Cristianismo, Tolerância Social e Homossexualidade: Pessoas gays na Europa Ocidental a partir do início da era cristã para o século XIV. Seu livro revela muito do que tinha aprendido ao longo de uma vida de pesquisa em fontes primárias em bibliotecas e arquivos espalhados.

Como esses casamentos foram esquecidos pela história?
Uma resposta fácil é que – como Boswell argumenta – a Igreja reformulou a ideia do casamento no século 13 para fins de procriação. Acadêmicos e funcionários da igreja trabalharam duro para suprimir a história desses casamentos, a fim de justificar sua nova definição.
Naturalmente, a história é mais complicada do que isso. Boswell afirma que parte do problema é que a definição de casamento hoje é muito diferente, que é quase impossível para os historiadores reconhecerem documentos de casamentos gays de 1800 anos atrás.
Muitas vezes, esses documentos referem-se a unir “irmãos”, que na época teria sido uma maneira de descrever parceiros do mesmo sexo, cujos estilos de vida eram tolerados em Roma.
Além disso, os casamentos mais de um milênio atrás não eram baseadas em procriação, mas na partilha da riqueza. Assim, o “casamento” às vezes significava uma união não sexual de duas pessoas ou de famílias. Boswell admite que alguns dos documentos que encontrou poderiam referir-se simplesmente ao fato da união não sexual de dois homens – mas também se referiu ao que hoje chamaríamos o casamento gay.
O jurista Richard Ante escreveu um artigo explicando que o livro de Boswell poderia até ser usado como evidência para a legalidade do casamento gay, uma vez que mostra a evidência de que as definições de casamento mudaram ao longo do tempo.
Ele descreve algumas das evidências de Boswell desses ritos do mesmo sexo, no início do primeiro milênio: “O rito do enterro dada para Aquiles e Pátroclo, os dois homens, era o rito do enterro de um homem e sua esposa. As relações de Adriano e Antínomo, de Polyeuct e Nearchos, de Perpétua e Felicitas, e dos Santos Serge e Baco, são semelhantes aos casamentos heterossexuais de suas épocas. A iconografia de Serge e Baco foi a mesma usada em cerimônias nupciais do mesmo sexo pela Igreja cristã primitiva”.
A principal evidência de que essas uniões do mesmo sexo eram casamentos é que eles eram muito parecidos com cerimônias heterossexuais. O literário erudito Bruce Holsinger descreve histórias detalhadas de Boswell de cerimônias do mesmo sexo: “[Boswell] inteligentemente coloca o desenvolvimento de escritórios nupciais heterossexuais e pessoas do mesmo sexo como um fenômeno único, acompanhando o crescimento deste último de ‘meramente um conjunto de orações’ na Idade Média antes de sua floração no século XII, que envolveu ‘a queima de velas, a colocação das mãos dos dois partidos sobre o Evangelho, a união de suas mãos direitas, a ligação de suas mãos … com estola do sacerdote, uma ladainha introdutório coroação, a Oração do Senhor, comunhão, um beijo, e às vezes circulando ao redor do altar’.
Boswell dedica um capítulo inteiro para comparar esses rituais com os seus homólogos heterossexuais, revelando uma série de semelhanças extraordinárias entre os dois, em vários apêndices, totalizando quase 100 páginas. Ele compilou inúmeros exemplos dos próprios documentos (incluindo cerimônias de matrimônio heterossexual e rituais de adoção) para permitir que ‘os leitores julguem por si mesmos’, como ele diz”.
Eram estas uniões do mesmo sexo na idade média a mesma coisa que casamentos gays de hoje? Provavelmente não. Pessoas da época podem não ter visto dois homens que formam uma união como algo fora do comum.
O próprio casamento significava algo diferente de milhares de anos atrás, e os tabus sociais contra a homossexualidade ainda não tinham solidificado. Ainda assim, na obra de Boswell, encontramos registros de instituições onde os casais do mesmo sexo foram homenageados com as mesmas cerimônias que os casais de sexo oposto. Dois homens podiam viver como irmãos, partilhando riqueza, casa e família. E sim, eles podiam amar uns aos outros, também.
Embora Boswell tenha morrido antes de seu país começar a permitir essas uniões, ele poderia se vangloriar por saber algo que a maioria das pessoas não conhecia. Mesmo os tipos mais fundamentais das relações humanas mudam com o tempo. Aqueles que foram banidos hoje pode ser abençoado amanhã – assim como eles eram mais de mil anos atrás.

Não se julga a aparência!


LGBTs

Hoje mais cedo, recebi de Bruno, um designer amigo meu, heterossexual e casado, a seguinte mensagem:

"Jean, hoje um primo meu extremamente reacionário cortou relações comigo porque viu uma foto minha com você. Ele disse que gays não deveriam nem ter direito de usar serviços públicos como o SUS. Achei ótimo cortar essa pessoa da minha vida... Mas tomei um susto por ter essa evidência viva que seres humanos assim ainda existem".

Sim, Bruno, eles existem aos montes. Sempre existiram. Nós, LGBTs, sabemos disso porque eles estão presentes diariamente em nossas vidas na forma do insulto, da injúria, da discriminação negativa e da violência mais dura, inclusive em nossas próprias famílias.

A diferença agora é que essa gente - que age por ignorância ou por um senso torto de "normalidade", mas também por uma certa crueldade eivada de inveja de nossa liberdade e prazeres - está se sentindo cultural e politicamente amparada para estender seu ódio mortífero também às pessoas amigas de LGBTs.

Você viu quais foram os parlamentares campeões de votos no primeiro turno das eleições? Você já ouviu os discursos de apoio de MAL-AFAIA e do PSC ao candidato Aécio Neves?


Homossexual para a Globo:
Branco, cis, elite, que pode ser gay sem problemas desde que as pessoas não saibam disso, não pode ter trejeitos femininos e tem que manter a postura de "macho" discreto sempre. Além de que pode ser ~curado~ por uma personagem que vai aparecer do nada na novela só pra mostrar que se ele provar da fruta a sexualidade dele pode mudar (como se sexualidade fosse algo mutável).
Sem contar a utilização de termos pejorativos e textos mal feitos que chegam a falar que "ser gay ta na moda" e o homofóbico que ta sofrendo horrorresssssssss, tendo problemas psicológicos e não pode arcar com a sexualidade alheia, AFINAL, HOMOFÓBICO SOFREEEEE NÉ?

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

http://www..anpuh.org/resources/anais/14/1308144162_ARQUIVO_Agnes_ferreira3_snh2011.pdf

Tema 3

A autodenominação remete a uma necessidade por parte dos moradores de retirar a visão
negativa de favela, do morro, da falta de segurança na tentativa de mostrar e tornar para eles 
mesmos uma realidade a empreitada de sua transformação social, política, econômica, 
ideológica.
Nesse sentido, no Território do Bem, as comunidades já possuem um grande grau de 
articulação, algumas mais, outras menos, facilitado por instrumentos de planejamento 
estratégico – o Plano Bem Maior – e de fórum – Fórum Bem Maior –, com especial 
envolvimento no movimento popular de moradia. 
O fórum busca empreender ações coletivas que assegurem maior força de negociação, 
reivindicação e debate político, observando-se o exercício de cidadania, inclusive com 
participações no Conselho Popular de Vitória, audiências públicas, orçamentos participativos; 
ou seja, o fórum promove a organização e participação de seus moradores com plena sapiência 
da complexidade política a que estão arraigados. 
O Fórum Bem Maior é um espaço aberto de agregação e produção de conhecimentos múltiplos, 
debate de interesses e articulação de soluções comuns às oito comunidades no enfrentamento da 
desigualdade social, da segregação espacial, comprometido com a busca da melhoria da 
qualidade de vida e com a participação cidadã de seus moradores.
Dentre as dificuldades reais encontra-se a própria gestão dos canais de participação no processo, 
tendo em vista que o planejamento urbano e o urbanismo configuram uma ação pública.
Para tanto, é necessário que a sociedade civil se organize de forma autônoma e independente do 
Estado a fim de criar e realizar ações, estabelecer parcerias que fortalecem esse tipo de 
atividade; elaborar e propor projetos, atividades e políticas públicas; além de assegurar que o 
Estado cumpra as leis. Encontra-se aí a importância de se ter equipamentos e espaços que 
funcionem como canais de participação e de mobilização para esses grupos.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Projeto Vitória no enfrentamento à homofobia



Com o objetivo de melhorar ainda mais o atendimento à população, visando à construção de uma sociedade mais justa e igualitária, a prefeitura de Vitória promoveu um curso "Formação em Gênero e Diversidade Sexual", em que cerca de 35 profissionais que atuam na Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas) participaram. O objetivo do curso é fomentar a reflexão sobre os direitos humanos, diversidade de gênero e sexual e a prevenção da homofobia.

Link: Servidores participam de formação em gênero e diversidade sexual

Visão da bancada feminina na Assembléia


O ano de 2010, com a chegada da primeira mulher à Presidência da República, foi um marco no que  se refere, politicamente, ao crescimento da representação feminina  nos espaços de poder. Já no universo político estadual, o fenômeno também se refletiu, com o crescimento da bancada feminina no Congresso. Entretanto, a julgar pelos resultados do último dia 5, a onda feminina recuou no Espírito Santo.

Link: Veja o que pensa a bancada feminina que vai assumir na Assembleia

"Perdoo mas ela vai ter de pagar" declaração do goleiro Aranha.

Flagrante de racismo contra o goleiro Aranha.
http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2014/09/torcedora-flagrada-em-ato-de-racismo-chega-delegacia-para-depoimento.html

http://esporte.uol.com.br/futebol/ultimas-noticias/2014/09/30/policia-indicia-quatro-pessoas-por-injurias-raciais-contra-goleiro-aranha.htm

Violência contra mulheres é banalizada.

A banalização da violência contra mulher persiste. Videos de agreção saõ frequentes e demonstram como ainda a violência contra as mulheres não é encarada pela sociedade como um crime grave a ser combatido. http://g1.globo.com/pr/norte-noroeste/noticia/2014/10/videos-de-brigas-vao-parar-na-internet-e-mostram-banalizacao-da-violencia.html

Outubro Rosa


É importante destacar o alcance da Campanha Prevenção do Câncer de Mama e como todas as mulheres tem direito a políticas de saúde.

http://www.vitoria.es.gov.br/noticia/outubro-rosa-centro-da-juventude-promove-bate-papo-sobre-cancer-de-mama-16020

http://g1.globo.com/espirito-santo/noticia/2014/10/pontos-de-vitoria-tem-iluminacao-especial-no-outubro-rosa.html

http://g1.globo.com/espirito-santo/noticia/2014/10/internas-deixam-centro-prisional-no-es-para-fazer-mamografia.html

ESTATÍSTICA DE HOMICÍDIOS CONTRA MULHERES NO PRIMEIRO SEMESTRE DE 2014 POR MUNICÍPIOS DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

JANEIRO – TOTAL 13 HOMICÍDIOS 

DATA DO HOMICÍDIO
MUNICÍPIO
01/01
SERRA
01/01
VITÓRIA
03/01
VILA VELHA
07/01
GUARAPARI
08/01
SERRA
12/01
NOVA VENÉCIA
12/01
GUARAPARI
15/01
PANCAS
15/01
ITARANA
23/01
SERRA
24/01
VILA VELHA
26/01
IBITIRANA
28/01
IRUPI


FEVEREIRO – TOTAL 15 HOMICÍDIOS

DATA DO HOMICÍDIO
MUNICÍPIO
04/02
CARIACICA
07/02
SERRA
07/02
 VITÓRIA
07/02
BAIXO GUANDU
07/02
CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM
09/02
CARIACICA
16/02
SERRA
17/02
SERRA
17/02
SERRA
18/02
VILA VELHA
18/02
VITÓRIA
19/02
MARATAÍZES
21/02
VILA VELHA
24/02
VITÓRIA
28/02
SERRA
  

MARÇO – TOTAL 11 HOMICÍDIOS

DATA DO HOMICÍDIO
MUNICÍPIO
01/03
LINHARES
03/03
VILA VELHA
04/03
CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM
04/03
CARIACICA
09/03
VITÓRIA
09/03
SERRA
10/03
VILA VELHA
11/03
SERRA
12/03
BREJETUBA
12/03
SÃO GABRIEL DA PALHA
13/03
DOMINGOS MARTINS


ABRIL – TOTAL 10 HOMICÍDIOS

DATA DO HOMICÍDIO
MUNICÍPIO
02/04
CARIACICA
02/04
VILA VELHA
02/04
SERRA
04/04
VILA VELHA
10/04
VILA VELHA
14/04
GUARAPARI
16/04
IRUPI
27/04
SERRA
28/04
SERRA
30/04
BAIXO GUANDU


MAIO – TOTAL 11 HOMICÍDIOS

DATA DO HOMICÍDIO
MUNICÍPIO
01/05
LINHARES
02/05
VILA VELHA
06/05
VILA VELHA
09/05
CARIACICA
09/05
VITÓRIA
10/05
SERRA
22/05
BAIXO GUANDÚ
24/05
GUARAPARI
25/05
FUNDÃO
25/05
SERRA
29/05
LINHARES


JUNHO – TOTAL 15 HOMICÍDIOS

DATA DO HOMICÍDIO
MUNICÍPIO
01/06
SANTA TEREZA
02/06
CONCEIÇÃO DA BARRA
03/06
SÃO MATEUS
04/06
SÃO MATEUS
05/06
SERRA
05/06
IUNA
05/06
IUNA
06/06
SÃO GABRIEL DA PALHA
06/06
SÃO MATEUS
07/06
PINHEIROS
08/06
CARIACICA
13/06
VILA VELHA
24/06
VILA VELHA
25/06
SERRA
27/06
BARRA DE SÃO FRANCISCO


* As informações apresentadas são destinadas a orientação sobre a ocorrência de crimes de homicídio doloso consumado no Estado do Espírito Santo. Os dados estão sujeitos as alterações decorrentes das investigações criminais. Não serão computados os óbitos provenientes dos crimes de trânsito.
Fonte: GEAC (Gerência de Estatística e Análise Criminal/SESP).


domingo, 12 de outubro de 2014

http://noticias.r7.com/brasil/de-olho-na-comissao-de-direitos-humanos-bolsonaro-avisa-que-nem-gays-nem-negros-vao-atrapalhar-11022014

O deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), envolvido em várias polêmicas ao se posicionar contra as lutas de movimentos sociais na Câmara dos Deputados, quer ser o novo presidente da CDH (Comissão dos Direitos Humanos). Ele quer substituir o também polêmico deputado Marco Feliciano (PSC-SP), que assumiu a comissão em março de 2013.
Ele acredita que assumir o colegiado é uma boa forma de ter “visibilidade” em um ano de eleições, e não teme a pressão de grupos que se sentem discriminados por ele.
Para Bolsonaro, “quanto mais se fala em direitos humanos, mais a violência cresce em nosso País” e, por isso, ele vai abrir espaço para debates que defendem os “seres humanos”.
Em entrevista ao R7, Bolsonaro disse ser a favor da pena de morte, levantou a bandeira pela redução da maioridade penal e pela revogação do Estatuto do Desarmamento.
Sobre o movimento negro, Bolsonaro foi categórico: “não quero saber a cor de pele de ninguém”. E a opinião do deputado sobre o movimento homossexual também não mudou — continuam sendo “o que há de pior na sociedade”.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Programa Pró-equidade de gênero e raça



Texto sobre o Programa Pró-equidade de gênero e raça, planejamento e ações a fim de disseminar novas concepções na gestão de pessoas e na cultura organizacional e alcançar a igualdade entre mulheres e homens no mundo do trabalho.


Link: Pró-Equidade de Gênero e Raça enfrenta desigualdades no ambiente profissional

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

http://blogueirasfeministas.com/2014/09/o-sexo-e-as-negas-racismo-e-estereotipos/

http://blogueirasfeministas.com/

O Sexo e as Negas: racismo e estereótipos

Texto de Bia Cardoso para as Blogueiras Feministas.
Estreou na última terça-feira, “O Sexo e as Negas”, nova série das terça-feiras na Rede Globo. Desde que foi anunciado, o programa vem provocando questionamentoscríticas e ações de boicote, especialmente por parte das mulheres negras. Infelizmente, o primeiro episódio mostrou que muitos dos temores se confirmaram.
A primeira cena vai ao passado, em 1926, para contar como se deu a formação da Favela da Praia do Pinto. Quem esperava logo no início o protagonismo estampado das negras, surpreende-se ao ver que essas primeiras cenas contam a história do nascimento de Jesuína, vivida pela atriz branca, Claudia Gimenez. Tudo isso com narração do autor branco, Miguel Falabella. Apenas aos 2 minutos, avistamos as quatro protagonistas, entrando em cena triunfal com roupas e cabelos estilosos, na linha Sex And The City que o seriado pretende emular.
Cena do primeiro episódio do seriado "O Sexo e as Negas" da Rede Globo.
Cena do primeiro episódio do seriado “O Sexo e as Negas” da Rede Globo.
Porém, diferentemente do seriado americano, em que sexo e homens eram alguns dos principais assuntos, mas todas as protagonistas tinham também carreiras profissionais e tornavam-se cada vez mais bem sucedidas em suas vidas; “O Sexo e as Negas” resume tudo a sexo e homens, inclusive o problema da mobilidade urbana e do transporte público.
Uma das primeiras frases ouvidas é que: “o problema do transporte acaba atrapalhando a vida amorosa da gente”. Quando mostram duas das personagens no metrô lotado não há discussão sobre assédio e nem o que poderia ser feito para melhorar a questão do excesso de passageiros. A solução é comprar um carro, veja só! Para comprar um carro é preciso dinheiro. Fora o fato de que é estranhíssimo quatro mulheres tão descoladas não terem pesquisado e se informado sobre valores de carros usados, já que elas chegam ao vendedor como se não tivessem nenhuma noção, a solução encontrada para conseguir dinheiro é jogar no Jogo do Bicho, o que no Brasil é crime.
Então, vamos pegar nossa cartela do Bingo e marcar a lista de estereótipos em relação a mulheres negras e pessoas que vivem em comunidades, especialmente no Rio de Janeiro:
1) mulheres negras estão o tempo todo pensando em homens;
2) mulheres negras estão sempre prontas para fazer sexo no local de trabalho ou carros usados, desde que eles custem 15 mil reais;
3) pessoas que vivem em comunidade estão sempre envolvidas com atos criminosos, seja com o chefe do tráfico ou com o Jogo do Bicho;
4) “As mulheres todas querem casar, todas elas tem a mesma coisa na cabeça, arrumar quem pague as contas”, afirma Big, homem negro que tem esse nome por ter um pênis grande;
5) “A única coisa que bota um cara na cadeia no Brasil é pensão alimentícia, por isso a primeira coisa que elas fazem é arrumar um filho”, complementa o personagem Adilson, pedreiro branco que provavelmente não conhece a realidade das cadeias brasileiras.
Portanto, por mais que as protagonistas sejam guerreiras, trabalhadoras e que não levam desaforo para casa, no fundo elas só querem um homem para bancá-las e uma pensão alimentícia para garantir(?) o futuro. Que retrato bacana, não é mesmo? É tão bom quando nos mostram que por mais que as mulheres negras ascendam socialmente, tenham sonhos, lutem por eles, sempre haverá alguém para dizer onde é exatamente o lugar delas.
Isso fica bem explícito em duas cenas. Na primeira, a personagem Soraia está esperando a patroa entregar o pagamento do dia como cozinheira, enquanto isso, o patrão chega de cueca com o peito desnudo e a olha lascivamente. Em outra cena, a atriz famosa da qual Zulma é camareira pede que ela guarde uma jóia. Zulma diz que tem receio de sair na rua com uma pulseira tão cara, ao que a personagem da atriz responde: “E você acha que no seu braço alguém vai achar que é de verdade?”.
Nesse primeiro episódio, as quatro negras enfrentam diferentes situações de machismo e racismo, mas apenas Lia responde de forma explícita como visto na cena da churrascaria em que trabalha.
Quando criticamos o programa, o autor e a Rede Globo, não estamos dizendo que Miguel Falabellaé o anti-cristo do racismo e que deveria ser preso, estamos apontando que os estereótipos estão se repetindo mais uma vez. Quando enfatizamos que é um autor branco escrevendo sobre mulheres negras, que uma atriz branca encarna o papel da sabedoria para as personagens negras, estamos explicitando que há pouquíssimas pessoas negras exercendo o papel de criadores (autores, roteiristas, diretores) na televisão. Um veículo que ainda é o maior meio de comunicação do pais e que isso tem consequências diretas na vida das mulheres negras brasileiras.
O retrato da mulher negra na televisão tem relação direta com a imagem da mulher negra forjada no período escravocrata, com algumas poucas mudanças aqui e acolá. Ao chamarem as críticas de moralistas, questionando: qual o problema em associar negras ao sexo? As pessoas esquecem que, no Brasil, as mulheres negras tem mais chances de serem vítimas de violência, especialmente estupros, porque são vistas como promíscuas, lascivas, provocadoras. Não faz muito tempo, a cervejaria Devassa fez uma campanha publicitária extremamente racista em que sua cerveja preta era vendida com o slogan: “É pelo corpo que se reconhece a verdadeira negra”.
A mulher negra é extremamente sexualizada por nossa cultura, que a coloca na maior parte das vezes como uma transa exótica. Ao mesmo tempo que é sedutora, é pecadora, pois não é vista como a mulher decente, a mulher para casar. De que cor falamos quando usamos a expressão “da cor do pecado”?
As mulheres negras recebem menos anestesia em hospitais e sofrem mais violência obstétrica, porque mulher negra é forte, aguenta tudo. Não é à toa que o termo “mulata”, tão exaltado como representação da beleza negra, tenha sua origem na palavra “mula”, animal utilizado especialmente para carga.
As mulheres negras veem diariamente o genocídio dos jovens negros ceifarem a vida de seus filhos, mas quem se importa quando mais um negro morre na periferia de uma grande capital? Logo elas terão outros filhos, afinal, mulher negra e pobre no Brasil sempre tem um monte de filhos, não é?
Para que você, mulher negra, quer fazer uma universidade de elite? Cota é para quem évagabunda! Volte para seu lugar, pois minha preocupação é: como farei para ter um empregada doméstica, agora que elas tem tantos direitos? Esses são apenas alguns exemplos das consequências da imagem da mulher negra que está fixada no imaginário social.
Temos visto, nos últimos anos, inúmeros casos de racismo sendo denunciados e expostos, muitas pessoas negras não ficam mais caladas diante dos absurdos cotidianos. Porém, a sociedade brasileira insiste em fechar os olhos para a gravidade do problema, se recusa a implementar ações para resolver a questão, que não pode passar só pela criminalização. A educação, as cotas raciais, as críticas a imagem do negro nos meios de comunicação, o atendimento a essa população específica nos órgãos públicos, entre outras questões, tudo está interligado.
Sabemos bem o que acontece quando apontamos o racismo. Logo gera-se uma “polêmica”. A primeira coisa que fazem é negá-lo ou relativizá-lo. A segunda é apelar para o mito da democracia racial, tão conveniente para aqueles que estão no poder. A terceira é dizer que tem parentes, amigos ou empregados negros. A quarta é reclamar nas redes sociais que não se pode mais chamar um bolo de chocolate de nega maluca. A quinta é gritar: racismo reverso! Como se fosse possível jogar 300 anos de cultura escravocrata com um guindaste numa pessoa branca. Chega-se até mesmo a dizer que o racismo não existe, porque muitas vezes perder a cabeça e dizer algo ofensivo é biológico, como tenta nos fazer acreditar um médico neurologista num programa matinal de televisão.
A boa notícia é que hoje as mulheres negras estão cada vez mais dispostas a brigar por respeito e isso incomoda muito, porque significa que novos espaços serão conquistados por elas, nem que seja na base da força. Por isso, convido você a acompanhar o projeto #AsNegaReal das Blogueiras Negras que pretende apontar e debater o racismo presente nesse novo programa.
Por fim, dois projetos estrangeiros que mostram como poderia ser um Sex And The City escrito por mulheres negras: An African City, criação de Nicole Amarteifio e Girlfriends, criação de Mara Brock Akil.